Descrição

Um enclave num território hostil, social e economicamente fragilizado, constitui um desafio complexo, quando se pretende contribuir para um processo de desenvolvimento com base nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

A beleza da paisagem natural em Oé-Cusse é marcada pela exiguidade do território e pela ausência de recursos e de acessibilidades. A variação de altimetria no território, que ocorre ao longo de poucas centenas de metros, limita a sua utilização para uma agricultura em extensão, e obriga a grandes percursos para vencer curtas distâncias, dado que estas que são delimitadas por longos espaços de linhas de água. A constante visão da montanha não nos deixa esquecer as dificuldades que a população sente, na mobilidade e na apropriação do território para a construção de habitação, ou mesmo para a produção alimentar. Em contraste, surge no território uma faixa oceânica rica em corais, que a pontuam, fazendo da sua cor azul-turquesa um infinito manto que cobre o território ao longo do ciclo das marés. A temperatura alta e a humidade elevada fazem-nos recordar, a todo o tempo, que estamos na região asiática, que sendo um território de adversidades é, em simultâneo, um local de oportunidades.

A população local exibe uma postura com reduzidos contactos sociais, em grande parte como resultado de 23 anos de ocupação do território por uma potência estrangeira, não existindo um contexto para iniciativas de convívio fora do círculo familiar. Mas, é no âmbito da família, que provém o elevado número de população jovem que caracteriza o território, e que nos indica a necessidade de oferta de espaços de convívio social, entorno dos quais a economia pode vir a surgir. Neste contexto, a orientação geográfica do território a norte, permite explorar e ordenar o uso da diminuta faixa de território, que unifica a zona de montanha com a zona de costa. Não sendo a postura da população local de procura do exterior da habitação para o “deixar passar do tempo”, surge um novo e importante desafio: como promover a melhoria das condições da habitação. A hesitação no diálogo com os visitantes, como reação ao desconhecido, constitui uma dificuldade. Contudo, o facto histórico da presença dos portugueses e da sua memória, consegue captar mais simpatia e cordialidade, permitindo que sejamos ser mais facilmente aceites e recebidos.

É sobre as temáticas do tempo, do espaço público e da memória, com o objetivo de transformar o território atual, que se elabora o exercício do laboratório de Arquitetura do Projeto Final  (2016/2017), ao qual os estudantes de Arquitetura do Instituto Superior Técnico devem responder. Com suporte na vertente histórica, compreendida no local, e no modelo social atual, os estudantes transportaram para o projeto a síntese de uma reflexão mais alargada que a simples produção de um novo desenho do território.

Este livro constitui o primeiro da série “Repensar”, de Ensino e Investigação em Arquitetura que, partindo de uma abordagem ao planeamento urbano, conduz os estudantes ao projeto real. Num contexto de elevada dificuldade, que se concretiza numa intervenção para reforço do espaço público, e na conceção de um Módulo Adaptativo de Habitação de Baixo Custo, os estudantes são conduzidos a trabalhar o programa Casa +, delineado pelo GEOTPU.LAB para Oé-Cusse em Timor-Leste.

O exercício aqui refletido é acompanhado do texto de outros participantes e especialistas, que comentaram as condições do local, e sobre o processo do projeto.

MIGUEL AMADO (Org.)

Navegação Rápida
×
×

Cart