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Descrição

Este livro apresenta uma ampla abordagem a respeito dos processos tradicionais de ocupação das áreas de colina nas cidades brasileiras e portuguesas, associados à tradição da urbanística lusitana de ocupar sítios em locais elevados para a fundação de cidades.

Sete são as cidades estudadas: Lisboa, Coimbra e Óbidos, em Portugal, e Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Ouro Preto, no Brasil. A partir da compreensão histórica da organização espacial e da estruturação dessas cidades, são identificadas possíveis semelhanças, disparidades, regularidades e ruturas.

No Brasil, ao longo dos dois primeiros séculos, assim como em Portugal, essas cidades de colina tiveram a sua estrutura fortemente apoiada na rua direita, nas igrejas e nos seus largos fronteiriços, no rossio e numa disposição de traçados viários em consonância com os condicionantes topográficos, definindo uma singular morfologia para as quadras urbanas e os parcelamentos.

Na conclusão deste estudo, constata-se o potencial que um melhor entendimento do tema provoca, por exemplo, na definição de políticas governamentais, no incremento do turismo, por meio da valorização da memória e da cultura, e na abrangência social que poderão ter políticas adequadas a esses espaços muitas vezes frágeis de nossas cidades mais antigas, de forma a preservar um modo próprio de fazer cidade, marca dessa tão relevante tradição urbanística portuguesa.

O leitor tem em mãos uma obra deveras importante, na qual encontrará especialistas altamente qualificados e experientes voltados a este tema crucial, nada obstante pouco tratado na problemática urbanística: as colinas. Ou melhor, as cidades de colina, vistas de diferentes ângulos e perspetivas, da história e historiografia até a gestão pública.

Neste livro, consideram-se aspetos morfológicos, ambientais, geográficos, sociológicos, administrativos, etc., cujo resultado é a apresentação de novos paradigmas urbanísticos, sociais, políticos e ambientais para uma renovada perceção e planejamento das cidades luso-brasileiras. E, diga-se desde logo, tem o mérito de reforçar os laços culturais e científicos no interior do mundo luso-brasileiro, ao congregar uma plêiade de intelectuais reconhecidos tanto no campo da história da urbanização quanto das políticas públicas no Brasil e em Portugal, e mais amplamente da urbanística, em geral.

Estudos de caso fundamentam e ilustram as teorias aqui desenhadas. Em Portugal, os estudos sobre Coimbra, Óbidos e Lisboa (o bairro de Alfama) são exemplares, bem como, no Brasil, os que versam sobre Salvador, Vila Rica (Ouro Preto), São Paulo (o sítio histórico da cidade) e Rio de Janeiro (o morro de Santa Teresa).

Com efeito, o tema do urbanismo de colina situa-se, de modo acentuado, no centro da tradição historiográfica luso-brasileira, tanto assim que inspirou teses e provocou polêmicas que envolveram pesquisadores do porte de Sérgio Buarque de Holanda, Nestor Goulart Reis, Murillo Marx e Roberta Marx Delson, Manuel Teixeira, Helder Carita, Rafael Moreira, Walter Rossa, entre outros estudiosos. Suas ideias comparecem nesta obra coletiva, resultado do projeto amplo que envolveu a Universidade Presbiteriana Mackenzie, a Universidade Técnica de Lisboa, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Universidade de Coimbra e a Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, projeto capitaneado com argúcia e competência pelos professores, José Geraldo Simões Júnior e Manuel Leal da Costa Lobo.

Além do ineditismo das teses aqui apresentadas, o leitor encontrará elementos para compreender a metodologia inovadora que se propõe nos estudos realizados em diferentes cidades, tanto em Portugal como no Brasil. As experiências pontuais de cada um dos analistas, realizadas à luz do enquadramento geo-histórico apresentado por Costa Lobo e colegas, adquirem aqui seu pleno sentido, em articulação superior e exemplar. E o leitor atento saberá encontrar nestas subidas e descidas muitos pontos para reflexão e, como propõem os autores, densas recomendações para futuras políticas urbanas, bem fundamentadas na experiência histórica, coletiva, vivida nos dois lados do Atlântico.

Carlos Guilherme Mota | Historiador, professor emérito da Universidade de São Paulo, Professor titular de História da Cultura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Presbiteriana Mackenzie

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